Além de girar em torno de seu
eixo, a Terra desloca-se no espaço, com um movimento de translação em torno do
Sol, quando descreve uma elipse, de acordo com as leis de Kepler. Para o
observador situado na Terra, todavia, é como se esta fosse fixa e o Sol se
movesse em torno dela, seguindo um caminho, que, como já foi visto, é chamado
de eclíptica.
Em sua
marcha em torno do Sol, a Terra, descrevendo uma elipse, ficará mais próxima,
ou mais afastada do astro da luz. O ponto mais próximo --- 147 milhões de
quilômetros --- é o periélio; o mais afastado --- 152 milhões de quilômetros
--- é o afélio. Se a Terra, no movimento de translação, girasse sobre um eixo
vertical em relação ao plano da órbita, as suas diferentes regiões receberiam
iluminação sempre sob o mesmo ângulo e a temperatura seria sempre constante, em
cada uma delas. Mas, como o eixo é inclinado, em relação à órbita, essa
inclinação faz com que os raios solares incidam sobre a Terra segundo um ângulo
diferente, a cada dia que passa. E, assim, vão se sucedendo as estações: verão,
outono, inverno e primavera.
Como os
planos do equador terrestre e da eclíptica não coincidem, tendo uma inclinação,
um em relação ao outro, de 23 graus e 27 minutos, eles se cortam ao longo de
uma linha, que toca a eclíptica em dois pontos: são os equinócios. O Sol, em
sua órbita aparente, cruza esses pontos, ao passar de um hemisfério celeste
para outro; a passagem de Sul a Norte, marca o início da primavera no
hemisfério Norte e do outono no hemisfério Sul; a passagem do Norte para o Sul,
marca o início do outono no hemisfério Norte e da primavera no hemisfério Sul.
Esses são os equinócios de primavera e de outono.
Por
outro lado, nos momentos em que o Sol atinge sua maior distância angular do
equador terrestre, ou seja, quando é máximo o valor de sua declinação, ocorrem
os solstícios. Os dois solstícios ocorrem a 21 de junho e a 21 de dezembro; a
primeira data marca a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trópico de Câncer,
enquanto que a segunda é a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trópico de
Capricórnio. No primeiro caso, o Sol está em afélio e é solstício de verão no
hemisfério Norte e de inverno no hemisfério Sul; no segundo, o Sol está em
periélio e é solstício de inverno no hemisfério Norte e de verão no hemisfério
Sul. Portanto, o solstício de verão no hemisfério Norte e de inverno no
hemisfério Sul, ocorre quando o Sol está em sua posição mais boreal (Norte),
enquanto que o solstício de verão no hemisfério Sul e de inverno no hemisfério
Norte, ocorre quando o Sol está em sua posição mais austral (Sul).
Por
herança recebida dos membros das organizações de ofício, que, tradicionalmente,
costumavam comemorar os solstícios, essa prática chegou à Maçonaria moderna,
mas já temperada pela influência da Igreja sobre as corporações operativas.
Como as datas dos solstícios são 21 de junho e 21 de dezembro, muito próximas
das datas comemorativas de São João Batista --- 24 de junho --- e de São João
Evangelista --- 27 de dezembro --- elas acabaram por se confundir com estas,
entre os operativos, chegando à atualidade. Hoje, a posse dos Grão-Mestres das
Obediências e dos Veneráveis Mestres das Lojas realiza-se a 24 de junho, ou em
data bem próxima; e não se pode esquecer que a primeira Obediência maçônica do
mundo, como já foi visto, foi fundada em 1717, no dia de São João Batista.
Graças a isso, muitas corporações, embora houvesse um santo protetor para cada um desses grupos profissionais, acabaram adotando os dois São João como padroeiros, fazendo chegar esse hábito à moderna Maçonaria, onde existem, segundo a maioria dos ritos, as Lojas de São João, que abrem os seus trabalhos “à glória do Grande Arquiteto do Universo (Deus) e em honra a S. João, nosso padroeiro”, englobando, aí, os dois santos.
No
templo maçônico, essas datas solsticiais estão representadas num símbolo, que é
o Círculo entre Paralelas Verticais e Tangenciais. Este significa que o Sol não
transpõe os trópicos, o que sugere, ao maçom, que a consciência religiosa do
Homem é inviolável; as paralelas representam os trópicos de Câncer e de
Capricórnio e os dois S. João.
Tradicionalmente,
por meio da noção de porta estreita, como dificuldade de ingresso, o maçom
evoca as portas solsticiais, estreitos meios de acesso ao conhecimento,
simbolizados no círculo cósmico, no círculo da vida, no zodíaco, pelo eixo
Capricórnio-Câncer, já que Capricórnio corresponde, ao solstício de inverno e
Câncer ao de verão (no hemisfério Norte, com inversão para o Sul). A porta
corresponde ao início, ou ao ponto ideal de partida, na elíptica do nosso
planeta, nos calendários gregorianos e também em alguns pré-colombianos, dentro
do itinerário sideral.
O homem
primitivo distinguia a diferença entre duas épocas, uma de frio e uma de calor,
conceito que, inicialmente, lhe serviu de base para organizar o trabalho
agrícola. Graças a isso é que surgiram os cultos solares, com o Sol sendo
proclamado --- como fonte de calor e de luz --- o rei dos céus e o soberano do
mundo, com influência marcante sobre todas as religiões e crenças posteriores
da humanidade. E, desde a época das antigas civilizações, o homem imaginou os
solstícios como aberturas opostas do céu, como portas, por onde o Sol entrava e
saía, ao terminar o seu curso, em cada círculo tropical.
A
personificação de tal conceito, no panteão romano, foi o deus Janus,
representado como divindade bifásica, graças à sua marcha pendular entre os
trópicos; o seu próprio nome mostra essa implicação, já que deriva de janua,
palavra latina que significa porta. Por isso, ele era, também, conhecido como
Janitur, ou seja, porteiro, sendo representado com um molho de chaves na mão,
como guardião das portas do céu. Posteriormente, essa alegoria passaria,
através da tradição popular cristã, para São Pedro, mas sem qualquer relação
com o solstício.
Janus era um deus bicéfalo, com duas faces simetricamente opostas, cujo significado simbolizava a tradição de olhar, uma das faces, constantemente, para o passado, e a outra, para o futuro. Os Césares da Roma imperial, em suas celebrações e para dar ingresso ao Sol nos dois hemisférios celestes, antepunham o deus Janus, para presidir todos os começos de iniciação, por atribuir-lhe a guarda das chaves.
Tradicionalmente,
tanto para o mundo oriental, quanto para o ocidental, o solstício de Câncer, ou
da Esperança, alusivo a São João Batista (verão no hemisfério Norte e inverno
no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas mortais e, por isso, chamada
de Porta dos Homens, enquanto que o solstício de Capricórnio, ou do
Reconhecimento, alusivo a São João Evangelista (inverno no hemisfério Norte e
verão no hemisfério Sul), é a porta cruzada pelas almas imortais e, por isso,
denominada Porta dos Deuses. Para os antigos egípcios, o solstício de Câncer
(Porta dos Homens) era consagrado ao deus Anúbis; os antigos gregos o
consagravam ao deus Hermes. Anúbis e Hermes eram, na mitologia desses povos, os
encarregados de conduzir as almas ao mundo extraterreno.
A
importância dessa representação das portas solsticiais pode ser encontrada com
o auxílio do simbolismo cristão, pois, para o maçom, as festas dos solstícios
são, em última análise, as festas de São João Batista e de São João
Evangelista. São dois São João e há, aí, uma evidente relação com o deus romano
Janus e suas duas faces: o futuro e o passado, o futuro que deve ser construído
à luz do passado. Sob uma visão simbólica, os dois encontram-se num momento de
transição, com o fim de um grande ano cósmico e o começo de um novo, que marca
o nascimento de Jesus: um anuncia a sua vinda e o outro propaga a sua palavra.
Foi a semelhança entre as palavras Janus e Joannes (João, que, em hebraico é
Ieho-hannam = graça de Deus) que facilitou a troca do Janus pagão pelo João
cristão, com a finalidade de extirpar uma tradição “pagã”, que se chocava com o
cristianismo. E foi desta maneira que os dois São João foram associados aos
solstícios e presidem às festas solsticiais.
Continua,
aí, a dualidade, princípio da vida: diante de Câncer, Capricórnio; diante dos
dias mais longos, do verão, os dias mais curtos, do inverno; diante de São João
“do inverno”, com as trevas, Capricórnio e a Porta de Deus, o São João “do
verão”, com a luz, Câncer e a Porta dos Homens (vale recordar que, para os
maçons, simbolicamente, as condições geográficas são, sempre, as do hemisférios
Norte).
Dentro dessa mesma visão simbólica, podemos considerar a configuração da constelação de Câncer. Suas duas estrelas principais tomam o nome de Aselos (do latim Asellus, i = diminutivo de Asinus, ou seja: jumento, burrico). Na tradição hebraica, as duas estrelas são chamadas de Haiot Nakodish, ou seja, animais de santidade, designados pelas duas primeiras letras do alfabeto hebraico, Aleph e Beth, correspondentes ao asno e ao boi. Diante delas, há um pequeno conglomerado de estrelas, denominado, em latim, Praesepe, que significa presépio, estrebaria, curral, manjedoura, e que, em francês, é crèche, também com o significado de presépio, manjedoura, berço. Essa palavra créche já foi, inclusive, incorporada a idiomas latinos, com o significado de local onde crianças novas são acolhidas, temporariamente.
Esse
simbolismo dá sentido à observação material: Jesus nasceu a 25 de dezembro, sob
o signo de Capricórnio, durante o solstício de inverno, sendo colocado em uma
manjedoura, entre um asno e um boi. Essa data de nascimento, todavia, é
puramente simbólica. Para os primeiros cristãos, Jesus nascera em julho, sob o
signo de Câncer, quando os dias são mais longos no hemisfério Norte. O sentido
cristão, no plano simbólico, abordaria, então, apenas a Porta dos Homens e,
assim, só haveria a compreensão de Jesus, como ser, como homem. Mas Jesus é o
ungido, o messias, o Cristo --- segundo a teologia cristã --- e o outro polo,
obrigatoriamente complementar, é a Porta de Deus, sob o signo de Capricórnio,
tornando a dualidade compreensível.
Dois
elementos, entretanto, um material e um religioso, viriam a influir na
determinação da data de 25 de dezembro. O material refere-se aos hábitos dos
antigos cristãos e o religioso, ao mitraismo da antiga Pérsia, adotado por
Roma:
Os
primeiros cristãos do Império Romano, para escapar às perseguições, criaram o hábito
de festejar o nascimento de Jesus durante as festas dedicadas ao deus Baco,
quando os romanos, ocupados com os folguedos e orgias, os deixavam em paz.
Mas a
origem mitraica é a que é mais plausível para explicar essa data totalmente
fictícia: os adeptos do mitraismo costumavam se reunir na noite de 24 para 25
de dezembro, a mais longa e mais fria do ano, numa festividade chamada --- no
mitraismo romano --- de Natalis Invicti Solis (nascimento do Sol triunfante).
Durante toda a fria noite, ficavam fazendo oferendas e preces propiciatórias,
pela volta da luz e do calor do Sol, assimilado ao deus Mitra. O cristianismo,
ao fixar essa data para o nascimento de Jesus, identificou-o com a luz do
mundo, a luz que surge depois das prolongadas trevas.
por
José Castellani*
*Quem é
José Castellani?: Médico, escritor e historiador, é autor de mais de sessenta
livros sobre a cultura Maçônica, sendo considerado assim, um fenômeno na ampla
literatura da Fraternidade. Iniciado em 09.11.1965, logo em 1973, teve seu
primeiro livro Maçônico publicado pela Editora A Gazeta Maçônica, sob o título
"Os Maçons que fizeram a História do Brasil”. De lá para cá, somou mais de
sessenta títulos culturais Maçônicos, tendo sempre no "forno", novos
títulos a serem publicados. José Castellani, é um incansável colaborador de
inúmeras publicações, entre elas, é o responsável pela Consultoria Maçônica do
site Lojas Maçônica.
COMPILADO POR ROBERTO DE JESUS SANT´ANNA - M.'.M.'.
GOSP/GOB - R.'.E.'.A.'.A.'.
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