Qual a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o
Aprendiz e o Companheiro?
Em minha opinião, não é “Mestre”, nem “formador”, nem “ensino”. É certo
que os Aprendizes e Companheiros estão em período de formação, de aprendizagem
e prática sobre símbolos e simbologia, valores, propósitos e objetivos. É
também certo que a formação de Aprendizes e Companheiros é enquadrada e
proporcionada pelos Mestres da Loja. Aliás, no Rito Escocês Antigo e Aceito – e
não só – existe um Mestre da Loja com a específica responsabilidade de
coordenar a formação dos Companheiros – o Primeiro Vigilante – e outro com
idêntica responsabilidade em relação aos Aprendizes – o Segundo Vigilante.
Também é comum, e certo, o entendimento de que o Padrinho (isto é, o proponente
da admissão do então ainda profano na Loja) tem o especial dever de acompanhar
e auxiliar o Aprendiz ou o Companheiro cuja entrada na Loja patrocinou, quer na
sua integração no coletivo que é a Loja, quer na sua formação.
Mas, sendo tudo isto
certo, sempre entendi e defendi que, em bom rigor, a Maçonaria não se ensina,
aprende-se, isto é, os Mestres proporcionam os meios, propõem os conceitos,
guiam os Aprendizes e Companheiros no seu trabalho, mas o essencial está no
trabalho do próprio Aprendiz ou Companheiro, no seu esforço, no seu
compromisso, perante si próprio, de ser e fazer melhor, sempre melhor.
O trabalho do maçom é sempre e inapelavelmente individual, embora
executado no seio e com o auxílio do grupo que é a Loja. Mas o determinante é o
desbaste que o cinzel, sob a pancada do malho, ambos empunhados pelo maçom,
efetua na pedra que está a ser desbastada, o próprio que maneja as ferramentas
de desbaste. Esse é o trabalho essencial, o que tem vero significado, o que
importa. Esse é o trabalho que mais ninguém executa, nem pode executar, senão o
próprio em si mesmo.
Todo o resto é acessório. E, porque assim é não é o que se ensina ou quem
ensina, ou como ensina que releva. O que releva é tão só o que se aprende.
No meu entendimento, a palavra que melhor define o que deve ser o Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro é “exemplo”.
Precisamente porque
aquele que está a aprender a aprender é influenciado, formado, preparado, mais
do que pelas palavras, mais do que por lições, mais do que por explicações ou
exposições, pelos atos de quem vê como mais antigo, mais experiente, mais
“sabedor”, mais “qualificado”. Em Maçonaria não vigora, não deve vigorar, seria
inaceitável que vigorasse o dito popular “Bem prega frei Tomás, faz o
que ele diz, não faças o que ele faz”. A melhor pedagogia, a mais eficaz, a
que realmente vale a pena, é a do exemplo.
Não nos esqueçamos de que
os Aprendizes e Companheiros, sendo jovens membros da Loja, não são, porém,
imaturos infantes na vida… Pelo contrário, são pessoas desenvolvidas, com as
suas competências sociais inteiramente adquiridas, com vida própria, princípios
e valores de base adquiridos, com família, muitas vezes (seguramente na maioria
dos casos) eles próprios educando os seus filhos.
Não são bonitas palavras, elegantes conceitos, que marcam, convencem,
ajudam a melhorar, adultos com vida e personalidade próprias e marcadas e,
evidentemente, com o espírito crítico que desenvolveram ao longo da sua vida.
Os Aprendizes e Companheiros são jovens na Loja, ainda apenas sabem
soletrar a simbologia que lhes é presente, mas sabem muito bem, como adultos
capazes e experientes que são distinguir entre a parra e a uva e, sobretudo,
discernir quando porventura alguém que lhes pretenda dar lições, afinal tenha
muita parra e pouca uva e devesse no fim de contas dedicar-se a realmente
aprender e executar as lições que debita…
Só é verdadeiramente
Mestre Maçom aquele que propicia a aprendizagem, a melhoria, o crescimento, dos
Aprendizes e Companheiros, pelo seu EXEMPLO.
De muito pouco valem
bonitas exortações, exuberantes conceitos, profundas lições, se tudo isso não
passar de meras palavras facilmente levadas pelo vento dos fatos, regularmente
desmentidas pelos atos praticados. Se o Mestre Maçom, apesar de pregar o
trabalho, o esforço, a qualidade, se mostra desinteressado, desleixado,
impreparado, dificilmente inculcará no Aprendiz ou no Companheiro as virtudes
que proclama da boca para fora e trai nos seus atos.
Por isso, a postura do
Mestre Maçom perante o Aprendiz e o Companheiro deve atender sempre a que tem
de agir como o exemplo daquilo que proclama, sem contradição, sem facilitismo.
Ou muito mau Mestre será…
Afinal de contas, se acho
que a Maçonaria não se ensina, aprende-se, também acho que uma das melhores
formas de aprender é diligenciar ensinar. E, tendo-se sempre presente que, em
Maçonaria, a melhor forma de ensino é o exemplo, facilmente se adquire a noção
de que, para se puder dar o exemplo, tem-se de, constantemente, dar o melhor de
si mesmo, fazer melhor, trabalhar mais esforçadamente, procurar sempre ser hoje
melhor que ontem e amanhã melhor do que hoje.
Basta, simplesmente,
fazer aquilo que se proclama. Chega, afinal, ser efetivamente maçom em todos os
atos e momentos. E assim poder ser reconhecido pelos demais de que é realmente
Mestre Maçom, capaz de dar o exemplo aos mais jovens de como se faz – sempre e
até ao fim da vida!
Rui Bandeira
Publicado, originalmente, no Blog A Partir da Pedra.
Compilado por Ir\ Roberto de Jesus Sant´Anna - M\M\
A palavra conduz...O exemplo arrasta.
ResponderExcluirA palavra conduz...O exemplo arrasta.
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