O Templo de Salomão ocupa posição
de destaque na Simbólica Maçônica (o Conjunto de Símbolos da Maçonaria ou a
disciplina que estuda esses símbolos). Pois bem, uma das mais marcantes fontes
de símbolos, alegorias, lendas, ensinamentos maçônicos, é, inequivocamente, a
construção do Templo de Salomão. Inclui-se nas mais antigas tradições dos
operários da idade média e, até com alguns excessos, ainda integra os mais
poéticos temas dos maçons especulativos deste final de século XX. Dela se
extraem as mais diversas mensagens tanto na vertente anglo-saxônica (o mundo
cultural britânico) como na vertente latina (o mundo cultural francês) em
diversos Ritos e Graus.
Sim, a didática maçônica utiliza
intensamente símbolos, alegorias, lendas e mitos. Um dos defeitos desse método
é a confusão (muito comum, diga-se de passagem) que alguns fazemos entre
história e lendas - um incrível emaranhado de idéias e opiniões conduzindo-nos,
às vezes, a desvios indesejáveis. Na realidade dever-se-ia distinguir o que se
constitui em concreto elemento histórico do que é meramente lendário, havendo
um segundo nível de distinções necessárias, onde separam-se lendas com algum
fundamento histórico ou literário (a história bíblica, por exemplo) dos mitos
totalmente imaginários, decorrentes de uma cadeia de invenções ditas
esotéricas, sem fundamento algum, que acabam por se transformar em verdades.
Isso não é bom. O uso de símbolos (já em si exigindo imaginação) não pode
conduzir à superstição ou à idolatria, desvios que, de modo especial, nossa
sublime ordem condena (como, enfim, condena a todos os vícios).
A Tradição Maçônica
Quanto ao Templo de Salomão veja
que o próprio James Anderson afirmaria no Livro da Constituição (1723) que “os
israelitas ao deixarem o Egito, formaram um Reino de Maçons”; que “sob a chefia
de seu Grão-Mestre Moisés (…) reuniam-se frequentemente em loja regular,
enquanto estavam no deserto”, etc. . Vale a pena (e a curiosidade) ler essas
páginas da história lendária de nossa sublime ordem contada por Anderson (fls.
8 a 15) que podem ser encontradas in reprodução das constituições dos
franco-maçons ou constituições de Anderson de 1723, em inglês e português
(Trad. e Introd. de João Nery Guimarães, Ed. Fraternidade S. Paulo, 1982). De
fato, realmente, Anderson apenas repetia velhas lições transmitidas por antigos
documentos de maçons operários, reunidos para seu exame e síntese. As
obrigações eram lidas na cerimônia de ingresso de um Aprendiz na Loja Medieval
(algo análogo à Iniciação de nossos dias), para que o novo membro aprendesse a
história da arte de construir e da associação que o recebia. Inteirava-se das
regras de bom comportamento e das exigências morais a que deveria se conformar.
Outrossim, de alguma forma, esses antigos documentos serviam com finalidade
análoga a das nossas atuais cartas constitutivas, emprestando regularidade à
Loja. O leitor interessado encontrará detalhes e documentação em O Templo do
Rei Salomão na Tradição Maçônica, Alex Horne (Trad. Otávio M. Cajado, Pref. de
Harry Carr; Ed. Pensamento, S. Paulo, 9a. Ed.,1997, Cap. V., P. 59 e segs.).
Os antigos catecismos maçônicos
(séries estereotipadas de perguntas e respostas) do Século XVIII também se
refeririam com frequência à construção do Templo de Salomão que,
inequivocamente, integra tradições anteriores à Grande Loja de Londres (1717).
Se os manuscritos, manuseados por Anderson e seus companheiros, para escrever o
Livro da Constituição de 1723, não são exatamente conhecidos, centenas de
velhos outros pergaminhos sobreviveram, foram encontrados, guardados e
interpretados, servindo de fonte das mais autênticas para a história da sublime
ordem. E nesses antigos deveres (em muitos deles) já se falava na construção do
Templo de Salomão pelos Maçons. Convém contudo, no concernente à
historiografia, tratar tais documentos com certa reserva. Em sua origem foram
escritos por religiosos medievais, devotados a deus sem dúvida nenhuma, mas
despossuídos de crítica historiográfica. Presume-se que monges cristãos
transmitiram essas lições a operários iletrados (nossos avós) e que tais
documentos foram sendo copiados, recopilados, etc., mantendo a visão de uma
época que muito desconhecia de história.
A Tradição Bíblica
O Templo de Salomão, outrossim,
integra as narrativas do livro mais respeitável na sociedade ocidental - a
Bíblia. Ao sair do Egito, conduzido por Moisés, o povo hebreu não possuía uma
religião definida, muito menos um templo. Tão somente após o episódio no Monte
Sinai - quando Moisés recebe de deus as normas fundamentais da lei bem como as
instruções exatas quanto à construção da tenda sagrada (o Tabernáculo) - é que
os hebreus passam a ter um local específico de culto, nessa tenda abrigando os
objetos sagrados, a saber: a Arca da Aliança, a Mesa dos Pães Ázimos (ou sem
fermento), o Candelabro de Sete Braços (Minorá). Haveria também um altar para
queimar as ofertas sacrificais, outro para queimar incensos (perfumes) e uma
pia de bronze (todos conhecem essa história). E enquanto o povo vagava pelo
deserto, Deus orientava quando, onde e por quanto tempo estacionar. Os
retirantes do Egito levantavam seu acampamento de um lugar ao outro somente
quando a nuvem que cobria o Tabernáculo (indicando a presença do Eterno) se
erguia e indicava o caminho a ser seguido. Durante o dia, a nuvem; a noite, uma
coluna de fogo (veja em Êxodo, 40.34-38; ou em números, 9.15-23). E foram
quarenta anos.
Antes de Jerusalém ser
transformada por David na capital do reino, ainda no tempo de Samuel (um
sacerdote, juiz, profeta, mediador, chefe de guerreiros - Deus, falando a
Jeremias, equipararia Samuel a Moisés - Jer. 15.1) - a Arca ficou guardada em
um templo, em Silo, sob os cuidados da Família de Eli, também sacerdote. Em
Silo, Josué (que sucedera a Moisés) acampara o povo pela última vez (Josué,
18.1 e Sgs.). Esse pequeno templo de Silo foi, presumidamente, destruído pelos
filisteus (Jer. 7.11-12: “será que vocês pensam que o meu templo é um
esconderijo de ladrões? Vão a Silo, o primeiro lugar que escolhi para nele ser
adorado, e vejam o que fiz ali por causa da maldade de Israel.” assim falou O
Eterno.). Outrossim houve também o Templo de Betel, às margens da estrada que
ligava Siquém a Jerusalém - Betel, tão ao gosto dos maçons, mas sede de um
culto desviado, esse é o fato. Em Betel seria adorado um deus de mesmo nome,
que causaria desilusões aos israelitas (Jeremias, 48.13). Esse templo,
rejeitado pelos profetas (Amós, 10.13), ficou sendo o Santuário do Reino do
Norte, nele havendo a imagem idólatra de um touro (1 Reis, 12.29). Sim, Betel -
embora suscite a lembrança do altar construído por Abraão (Gen. 12.8), o sonho
de Jacó com sua Escada (tão ao gosto maçônico) e a pedra comemorativa que ali
foi erguida (Gen. 28.10-22) - tem essa parte negativa de idolatria também. Pois
é.
David, já consagrado rei, levaria
a Arca da Aliança para Jerusalém (1 Crônicas15.25-28). Tão alegre e festivo
esteve David nesse cortejo (cantando e dançando com o povo), que Mical, sua
esposa, filha de Saul, sentiu desprezo por ele (1. Cron., 15.29). Contudo o
Tabernáculo e o Altar dos Sacrifícios continuariam em Gabaon, posto que David
caíra em desgraça aos olhos de Deus. Derramara sangue em abundância, fizera
guerras em demasia e, por isso mesmo não poderia edificar em nome de Deus (ver
I Cron. 22.6-19). Somente Salomão teria a glória de construir o templo - o
primeiro de Jerusalém, posto a ocorrência de mais dois templos: o construído
por Zorobabel, após o exílio na Babilônia, e o construído por Herodes (todos
conhecem essa história).
Fontes Extrabíblicas
Apesar das minuciosas descrições
registradas na Bíblia, ainda não foi possível, contudo, se ter certezas quanto
a esse primeiro templo de Jerusalém. Não há registros extrabíblicos. As
escavações arqueológicas ainda não apresentaram alguma comprovação válida da
existência dessa obra. Explica-se tal ausência de restos arqueológicos à
completa destruição que teria sido realizada por Nabucodonosor, ou ao fato de
insuficiência de escavações no próprio sítio atribuído à localização do templo.
Esse lugar (santificado por diversas linhas religiosas) seria o hoje ocupado
pela belíssima e muito sagrada Mesquita de Omar, ou o Domo da Rocha, onde
Abraão, obediente a Deus, quase sacrifica seu próprio filho, Isaac (Gen.
22.1-19) - onde, de modo significativo, a tradição islâmica localiza Maomé
subindo ao céu (portanto mais do que justificado o impedimento maometano em
permitir escavações naquele local santificado). Contudo, causando decepção, não
são encontrados, também, registros arqueológicos (monumentos comemorativos) da
vitória de Nabucodonosor, como, por exemplo, podem ser encontrados registros do
triunfo romano de Tito, seiscentos anos após, destruindo o templo construído
por Herodes (a terceira construção na série histórica).
Fala-se no célebre “Muro das
Lamentações” como tendo sido parte da grande alvenaria de arrimo na esplanada
do templo. Contudo as determinações científicas de datas ali procedidas dão ao
muro idade próxima à década anterior ao nascimento de Cristo, tornando-a uma
obra mais adequada de ser atribuída ao terceiro templo, destruído pelos
romanos.
Contudo Salomão foi efetivamente
um grande construtor. Sua época - historicamente considerada, arqueologicamente
comprovada - foi de grande prosperidade. Um dos registros arqueológicos mais
significativos dessa época, é o da cidade de Megido, um complexo notável,
cavalariças com seus pilares em série, talhados em pedra calcárIa. Há,
outrossim, ainda do tempo de Salomão, restos arqueológicos da
fundição-refinaria de cobre em Ezion-Geber, produtora da matéria-prima que
serviria de ornamentos e utensílios de bronze (que as narrativas bíblicas
apontam ao templo). Outrossim (mesmo sem descobrimentos arqueológicos em
Jerusalém) pelo resultado de outras escavações e estudo de documentos diversos
(o leitor interessado encontrará detalhes e documentação em Alex Horne, Op.
Cit., Cap. IV, P. 37 e Sgs.) é possível estabelecer conclusões quanto à
arquitetura atribuída ao Templo de Salomão, no que concerne à ornamentação,
disposição das dependências, técnica construtiva, comparando a tradição bíblica
com restos arqueológicos de outros templos do oriente próximo. São lições
preciosas.
Conclusão
Enfim, o Maçom é mestre na arte
de compor oposições e não desprezará o repositório inesgotável de ensinamentos
velados por alegorias que nos proporciona a história (ou a lenda) da construção
do Templo do Rei Salomão. Não desprezará a tradição dos Maçons Operários, só
porque a arqueologia ainda não obteve provas insofismáveis. Ademais não se
negará a tradição bíblica tão apenas por insuficiência de escavações
arqueológicas.
É lição de Jules Boucher contida
no célebre a Simbólica Maçônica - segundo as regras da Simbólica Esotérica e
Tradicional (Trad. de Frederico O. Pessoa de Barros, Ed. Pensamento, S. Paulo,
9a. Ed., 1993, p. 152): os maçons não tentaram reconstruir materialmente o
Templo de Salomão; é um símbolo, nada mais - é o ideal jamais terminado, onde
cada Maçom é uma Pedra, preparada sem machado nem martelo no silêncio da
meditação. Para elevar-se, é necessário que o obreiro suba por uma Escada em
Caracol, símbolo inequívoco da reflexão. Tem por materiais construtivos a Pedra
(Estabilidade), a Madeira do Cedro (Vitalidade) e o Ouro (Espiritualidade).
Para o Maçom, ensina Boucher, “o Templo de Salomão não é considerado nem em sua
realidade histórica, nem em sua acepção religiosa judaica, mas apenas em sua
significação esotérica, tão profunda e tão bela”.
O Templo de Salomão é o Templo da
Paz. Que a paz do Senhor permaneça em nossos corações!
Portal Pedreiros Livres
Ir.'. Giovanni Muglia Junior
Ir.'. Giovanni Muglia Junior
Membro da: A.'.L.'.de Perf.'.Estrela do Vale II
Região de: Nova Andradina – MS.
Região de: Nova Andradina – MS.
COMPLIADO POR ROBERTO DE JESUS SANT´ANNA - M.'.M.'.
GOSP/GOB - R.'.E.'.A.'.A.'.
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